Para o caso de eu não estar cá (ou me esquecer) de vos dizer estas coisas quando vocês forem mais crescidas, serem corajosas é muito importante e ser-vos-á de grande ajuda em muitos momentos da vossa vida. Não é de mim que vão aprender isso, infelizmente, mas apraz-me dizer que podem sempre contar com o vosso pai para vos ajudar na difícil tarefa de olhar o mundo de frente. Ponham um post it no frigorífico ou no quadro do quarto, mas não se esqueçam. Coragem e valentia.
Aprende a alinhar duas ideias num papel. Aprende a escrever.
Por mais coisas boas que te deseje - saúde, dinheiro, que sejas heterossexual, erudita, mas com um emprego na área científico-tecnológica - hoje senti (não sei porquê) que não te podia dar conselho melhor. Aprende a escrever. Não é preciso seres prémio Nobel, mas faz-me a vontade nisto. Só por aquela coisinha de nada que é a clara certeza de que quem não sabe escrever não sabe pensar e eu quero que tu penses bem. E muito.
Cada um com a sua vida e tu não tens nada com isso
Sempre que uma pessoa diz que mora no centro de Lisboa, aparece um chico-esperto (ou dois ou três) que dispara qualquer coisa como "eu, no centro de Lisboa, nem morto(a), sem ter sítio onde estacionar". Pior se uma pessoa diz que mora numa casa que não é nova. É quase como se dissesse que vive sem água canalizada e electricidade. De certeza que faço coisas destas com outros assuntos (e lamento e peço desculpa a quem tenha ofendido), mas esta irrita-me até os cabelinhos dos braços. Qual é o problema de passar 10 minutos à procura de lugar? Logo que não se esteja aflitinha para ir ao WC... E, sinceramente, troco de bom grado o conforto de 100 metros quadrados de sala por estar a 10 minutos do trabalho. E se uma pessoa perceber como funcionam os transportes públicos então é que não se vê mesmo razão para trocar o centro de Lisboa por subúrbio qualquer. Mas isto sou eu. Admito que outras pessoas prefiram ter uma sala grande. Ou garagem. Ou ficar a viver perto dos pais. Porque, na realidade, pelo que sou é pela liberdade individual. Cada um na sua e todos os felizes. Portanto, a liçãozinha que quero transmitir à "rebenta" (e aos rebentos vindouros) é não julgarem os outros pelos seus próprios padrões. Todas as vidas são boas, logo que quem as vive esteja feliz. E isso tanto vale para as casas, como para os carros, como para namorados, como para amigos, como para trabalhos...
Eu sou a mãe que comete erros
Bem, eu vinha para casa, do trabalho, meia mole, um calor do caraças e fiquei ali parada na Antena 3 a ouvir umas mulheres que não identifiquei (só descortinei a Teresa Caeiro) a discorrerem sobre a educação, tendo por base o livro de um autor qualquer a propósito da educação dos filhos. Ouvi várias vezes, de pessoas que diziam ser mães, coisas como "porque os pais se demitem", "os pais não fazem"... Então, pensei: quando chegar a casa vou escrever como isto me parece uma tontice. Quando e como é que os pais passaram a ser culpados de tudo o que acontece aos filhos?
Seria uma desculpa maravilhosa, não digo que não, mas irreal. Ponto. Não haverá margem para debate sobre isto. Nem tudo é consequência dos "não" ou dos "sim" que vais ouvir ao longo da vida.
Pela minha parte, espero não me tornar numa destas pessoas que falam dos outros pais como se fossem uma categoria à parte, denunciando uma estúpida superioridade moral. Se por algum segundo te parecer que penso ser o supra-sumo da pedagogia é tanga. Eu sou a mãe que comete erros. Que diz e há-de dizer "não" impulsivamente e sem necessidade. Que se engana. Que se calhar vai dar uma palmada no rabo, que te dá chocolates e doces (e não devia), que não te deixa fazer coisas que desejas muito só porque tem medo, a mãe que manda tomar banho e fazer os TPC.
Pela parte que me toca, filha (e a todos os outros filhos que venha a ter), só posso prometer que ajo por bem.
Da conversa radiofónica retiro apenas uma ideia. Os pais não devem ser amiguinhos dos filhos. Podes ficar descansada. Não estou a pensar entrar nesse campeonato. Quero que possamos conversar de tudo o que pais e filhos precisem de falar, mas não pretendo sair à noite contigo, não tenha a expectativa que me contes como foi o teu primeiro beijo ou que seja comigo que aprendes a jogar xadrez. É a vida. E tu, és do mundo. Se te parece que me esqueço disso, lembra-me.
Manuela Moura Guedes e Marinho e Pinto não são bons exemplos de vida
Preserverança e persistência
Eis uma história daquelas que eu gosto:
A actriz Daniela Ruah, 25 anos, foi para os Estados Unidos estudar representação, tentar a sorte em castings, foi escolhida para entrar no piloto de um spin off da "Investigação Criminal", a série teve boas audiências, vai para a frente e ela vai mudar-se para Los Angeles, onde decorrem as gravações de "NCIS: Los Angeles" e tem contrato com a CBS.
Há uns anos, três talvez, a Daniela deu uma entrevista em que dizia que queria contracenar com a Nicole Kidman e ganhar um Oscar. Eu ri-me a ler o artigo. Yeah, yeah, Hollywood! Agora, se calhar, tenho de me calar. Isto de ter um dos papéis principais numa série até pode não ser nada, mas ela está defnitivamente mais perto do plano que traçou. E, sinceramente, quando assim é (para usar uma expressão tão cara ao futebol português), não tenho problemas em dar a mão à palmatória. Estava errada.
Apesar do que escreva Joel Neto no DN - que todos os que andamos histéricos com o êxito da Ruah numa série é um bocado injustificado e sinal de provincianismo - acho realmente fantástico haver uma actriz portuguesa a entrar numa série americana, que é só o coração da indústria televisiva, fotografada pelas agências internacionais na passadeira vermelha de um evento da CBS, uma foto que dá a volta ao mundo. Quantas e quantas pessoas estão em Nova Iorque e Los Angeles à procura de um lugar ao sol e não conseguem nada? Se a Ruah conseguiu algum talento, beleza, inteligência, capacidade lhe terão reconhecido. Moral da história: flecte, flecte, insiste, insiste. A algum sítio se vai dar.
Lateralmente a esta história, mas também no capítulo preserverança e persitência, fiquei comovida na sexta-feira quando vi o trabalho da minha colega sobre a Daniela Ruah impresso no jornal. Há várias semanas que ela segue, a par e passo, o percurso de "NCIS: Los Angeles", que contacta com a Daniela, que cultiva esta notícia. E, finalmente, teve o resultado desse trabalho de formiguinha. No momento mais preciso (no curto espaço de 6 horas, com uma diferença horária de várias horas), ela e só ela, conseguiu chegar à fonte e ter uma entrevista com a actriz (Sim, porque tenho a certeza que se fosse eu a mandar um mail com perguntas, ela até podia responder, mas ia demorar muito mais tempo).
Foi por ser amiga da estrela? Não. Foi por andar a fazer-lhe fretes? Não. Foi simplesmente porque insistiu, porque soube não deixar morrer a história, por ser rigorosa e ter um historial de trabalhos que fala por ela.
À velha máxima "não é preciso saber, é preciso ter o contacto de quem sabe"; instituída pelo papá, acrescento: "E é preciso saber o que fazer com ele". Nice work!
A coerência entre as palavras e os actos nunca é de mais
Profissionalmente, e dedicando-me eu ao ramo a que me dedico - em que os egos competem em número e tamanho com o monte Evereste - irrita-me profundamente que algumas pessoas do mundo do show business (só o nome é ridículo) sofram de incoerência crónica. A acusação mais frequente é que nos intrometemos nas suas vidas privadas (conto pelos dedos os que nunca deram azo a isso) e dizem-nos que não nos falam porque escrevemos sobre as suas vidas pessoais. Infelizmente, nunca se lembram de nos telefonar, escrever ou dizer o que quer que seja quando a notícia é que vão dar um concerto, estreiam uma peça de teatro ou um novo programa de TV.
Ainda no outro dia me aconteceu. Ligo para uma editora a pedir uma entrevista e dizem-me que o cantor x não está disponível porque tem um diferendo qualquer com o jornal. E uma pessoa nem diz nada, para não criar má onda com a assessora, que não tem culpa nenhuma, mas pensa perguntar-lhe se ele tem a mesma opinião quando noticiamos os concertos ou o disco novo que sai. Sinceramente, a partir desse momento, tomei uma decisão: informação que me chegue sobre ele, passará a ser ignorada. E se tiver mesmo de ser publicada (tipo, não tenho mais nada para lá pôr), vai na página par encostada ao agrafe. E sem foto.
Vinganças não é bom, mas ser tomada por parva também não serve de nada.
Ter uma cabeça arrumada é um bom começo para tudo
Este fim-de-semana, 11 anos depois de nos termos cruzado pela primeira vez, encontrei-me com os meus colegas da faculdade.
E gostei. E foi giro.E até me apetecia ser amiga de algumas pessoas com quem não tenho uma relação próxima.
Quando vinha para casa (a Mini a dormir no banco detrás, depois de ter andado de colo em colo), dei-me conta de uma coisa importante: há 11 anos, eu morria de vergonha, de medo, de timidez, de conhecer gente nova, qualquer pessoa ligeiramente diferente deixava-me em pânico, sempre a pensar que não estaria à altura de coisa nenhuma.
Se me convidassem para ir a reunião deste género ficaria uma semana a pensar no que ia vestir, no que ia dizer, em quem ia encontrar. Agora não. São cada vez menos as situações que me deixam com um frio na barriga. E apesar do que dizem SLB e R. - de como eu pouco ou nada mudei nestes anos - há uma diferença fundamental: aqui a mamã está muito mais crescida, caraças!
Em muitos aspectos, até é verdade que não sou nada parecida com a pessoa que sonhei que ia ser. Mas, lição de vida, isso não me impede de ser feliz. Nada mesmo. (Adoro estas conclusões!)
Os livros não se julgam pela capa.
Inábil para pôr vídeos, deixo o link para uma das mais extraordinárias histórias reais dos últimos tempos - Susan Boyle, 47 anos, a mulher que conquistou a Grã-Bretanha. Parece uma camponesa, canta maravilhosamente e dá uma lição de humildade a todos os que acham que o parecemos é o que somos.
Blogues que os pais visitam
Sítios para bebés... e não só