Terça-feira, 12 de Agosto de 2008
Um longo debate que ficou do fim-de-semana: mães trabalhadoras

Ponto prévio, isto não é um post com queixinhas porque sou uma moirinha de trabalho e depois tenho de vir para casa e cuidar da minha filha. Não. Mas quem inventou a expressão "dia de cão" não tinha filhos de certeza absoluta. Eis o relato dos meus dias e, atenção (muita atenção), eu tenho a vida muito facilitada - não faço trabalho braçal, não cozinho, não engomo e não limpo a casa:


Acordar às 08h00 para dar de comer à Mini, brincar com a Mini, pôr sopa a fazer, pôr a roupa a lavar e estender, despachar-me, dar o almoço à Mini, almoçar e ir embora. Tenho de sair às 13h20. Um minuto a mais e posso perder o autocarro.


O trabalho, na realidade, é a parte mais tranquila do dia. Apesar da adrenalina dos jornais, isso não é nada comparado com as birras da Madalena ou as suas fitas quando a comida não lhe agrada. E depois às 20h00 (não é às 19h59 nem às 20h01) saio disparada para apanhar o 74 e voltar para casa. A minha chefe ri-se com isto, mas é mesmo assim. Um minuto a mais e perco o autocarro. E se passar depois das 20h15 tenho de vir de táxi, coisa que não me apetece fazer por sistema porque tenho melhor sítios (tipo, escolas, universidades, desportos e cursos de línguas) onde gastar o dinheiro. Em casa, dou o jantar à baby, dou-lhe banho e ponho-a a dormir.


Geralmente quando tudo isto acaba são 22h30 (ainda é preciso arrumar confusão que gera o jantar e o banho), que é quando chega o papá da Mini e é a única altura em que podemos estar tranquilos. Às 00h00, estou frita. Fritíssima, se nesse dia a Mini tiver acordado com os pés de fora. Volto a dizer, tenho a vida muito facilitada (melhor do que isto só com a Bimby, não é, Dulce?), mas há muitas mulheres que não têm. Fazem tudo. Tudo mesmo. E é muito duro. "Realmente é como dizem e muito mais", dizia-me uma pessoa que conheço sobre o seu primeiro ano de maternidade". Porque acresce que, como são as mulheres que ficam de licença de maternidade, depois desse tempo todo, conhecem as suas crianças melhor que ninguém e, nem que seja por comodidade e rapidez, são elas que continuam a tratar de tudo.


É mais ou menos nesta altura que as mulheres deixam de ter uma carreira e passam apenas a ter um trabalho. O mulherio esfalfa-se e mata-se de sol a sol e no fim, para cúmulo, a sociedade inteira (mulheres incluídas) parece achar que basta o sorriso de uma criança para nos esquecermos que um dia tivemos ambições profissionais. Se calhar basta. Realmente, eu agora não ando a pensar muito nisso, mas custa-me chegar à conclusão que, por mais que me tenha esforçado no passado ou me esforce no futuro, vou ser sempre ultrapassada por homens que podem não ser mais competentes. Só que estão disponíveis.


"Para a Lina, acabou", disse-me esta mesma mãe sobre o meu futuro profissional. E, na crueza da sua observação, eu vi tudo. Eu não almejo a ser CEO de uma grande empresa, não quero sequer ser directora de um jornal, mas achava que, à medida que o tempo fosse avançando e eu fosse ganhando experiência, talvez um dia, dentro de uns 10 ou 15 anos, pudesse sonhar com um lugar numa direcção executiva (ou algo semelhante) e ser mãe ao mesmo tempo. E não. Isso não vai acontecer. Primeiro porque eu quero ter mais filhos, segundo porque mesmo que tenha só a Madalena, ela requer muita atenção. Uma atenção que não se compadece com fechos tardios de jornais, almoços de negócios e outras maleabilidades que só as pessoas sem filhos conseguem ter. Talvez algumas pessoas possam achar que a maternidade é uma coisa boa para uma pessoa se safar dos serviços da noite no jornal. Esquecem-se é que, pelo menos durante uns bons anos, vou estar também excluída da lista de elegíveis para ir em qualquer viagem.

 

Não se trata aqui de culpar a minha filha por isto. É evidente que ela, com o tal sorriso ou no meio de um choro monumental, merece que eu deixe tudo, mas tenho pena que o mundo que lhe deixo seja assim. Com sorte e muito progresso, talvez um dia ela possa ser mãe e Governadora do Banco de Portugal, mas não vai poder olhar para trás e dizer que a mamã dela conseguiu qualquer coisa de semelhante.

 

E, no meio disto tudo, e na conversa com essa mãe, uma mãe tardia que tem um cargo mais alto do que a maioria das mulheres pode aspirar, ela disse uma coisa que me deixou a pensar: estão realmente a ajudar-nos quando nos dão cinco meses de licença de maternidade? E se nos derem cinco anos? Vamos para casa durante cinco anos cuidar dos nossos filhos? Claro, teoricamente é muito agradável receber um salário e ficar a cuidar da Mini durante esse tempo todo. Eu gostava! Mas depois há o outro lado da moeda. Que não é propriamente a chatice de uma pessoa se transformar numa soccer mum. É não ser aumentada.

 

E, pronto, não maço mais. Tenho de me ir despachar e com isto tudo, e mais uma soneca da Mini pelo meio e umas brincadeiras no tapete, fizeram-se horas de lhe dar o almoço.




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publicado por Lina às 10:15
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