Sexta-feira, 6 de Novembro de 2009
Qual é a escola certa? #2

Em primeiro lugar, obrigada a todas as meninas que tiveram a amabilidade de perder algum do seu tempo a comentar o post anterior.

 

E agora abro aqui um parêntesis, em nome da etiqueta e da saudável convivência blogosférica, para dizer à Mil Sorrisos que, apesar das minhas dúvidas e críticas, tenho imensa admiração pelos professores e pela função social que desempenham. Não é minha intenção ofendê-los. Mas é precisamente por achar que são fundamentais (e tão pouco apreciados pelos governos em geral) que opino com tanta 'violência'. Não confundo o todo com as partes e, apesar de nunca ter estado na tua sala de aula, sou testemunha do teu empenho quando te lançaram o desafio de dares uma disciplina nova. Pediste ajuda, quiseste saber e acho isso louvável e correcto. Também tenho uma prima professora de uma escola secundária pública que se dedica com afinco à sua profissão e aos seus meninos, apesar das adversidades, pelo que não pretendo fundamentar as minhas decisões apenas num mau exemplo que uma professora primária me dá. E estamos de acordo: maus profissionais ou, no mínimo, gente com cujos métodos não concordamos, existem em todos os ofícios.

 

Acontece que guardo recordações maravilhosas da escola infantil e da primária - o tal CSPSJL de que a Dulce fala. Parte das minhas angústias resumem-se, aliás, ao facto de desejar que a minha filha seja tão feliz nas escolas por onde vai passar como eu fui naquela. Era o que hoje se chama de IPSS (Instituição Particular de Solidariedade Social), dirigida por freiras. Para a época em que comecei a frequentar o ensino primário, 1982, estava uns furos acima da média. Além de catequese (e eu não tenho nada contra escolas católicas, só contra as fundamentalistas), tínhamos ginástica, fazíamos um mês de praia no Verão e a mesma professora acompanhava as turmas da primeira à quarta classe.

 

Gosto imenso da Fernanda, a professora que me ensinou as primeiras letras e os primeiros contas e que incentivou, como nenhuma outra depois disso, o gosto pela leitura. Conhecia-nos quase tão bem como os nossos pais. Interessava-se. Por nós e pelo que se passava à nossa volta. Obrigava-me a fazer contas e problemas até à exaustão. Odiava. Mas era preciso. Era a minha fraqueza e ela sabia.

 

O resto da escolaridade fi-la em escolas públicas. Também guardo excelentes memórias desses tempos. Tive professoras óptimas. Que faziam de tudo para dar (bem) toda a matéria e que eram exigentes até ao último dia do terceiro período. Os que mais gostei são precisamente os mesmos que associo a grandes ralhetes. É mesmo assim. Só os tinham alguma expectativa e conheciam as nossas capacidades se zangavam com as nossas falhas. Deve ser a isto que chamam de tough love.

 

Mas na escola pública também fui confrontada com faltas de professores continuadas, com escolas em instalações precárias ou inexistentes. Frequentei três diferentes. A primeira era nova, tinha até uma pista de salto em comprimento, mas não havia um tecto para fazer ginástica. Os anos lectivos começavam e não tínhamos profes. Outra ficava num palacete lindo que foi adaptado a escola, o que nem sempre resulta bem. Acho que foi a segunda escola de que mais gostei, talvez por ser pequena, talvez por ter professores bons, que faziam das tripas coração para não notarmos que estávamos numa edifício a cair de podre. A terceira tinha tudo o que era preciso, até mais mais alunos do que devia. Tínhamos aulas nuns pré-fabricados a que chamávamos galinheiros, provisórios há 30 anos naquela altura.

 

De professores maus prefiro não falar (os piores mesmo encontrei na faculdade). É injusto comparar um período em que temos apenas um professor com outro em que temos dez. Mas concluo, com desgosto, que a distância dos gabinetes do ministério da Educação para as salas de aula é maior do que eu gostaria. Como se fosse possível um bom profissional trabalhar tão bem numa escola sem condições como em outra que tem tudo - como a Mil Sorrisos diz. 


Deve ser por isso que quando olho para trás, não tenho dúvidas que a primária foi mais importante para o meu crescimento e que foi a mais completa. Talvez fossemos demasiado "queques" para uma escola grande, precisamente sermos tão treinados para ser tão bonzinhos, mas no geral era a melhor. Atribuo isso à professora, mas não só Poderia ter tido uma igualmente boa, ou melhor, no sector público (ela, aliás, foi trabalhar para o sector público anos depois). Tem a ver com o contexto geral, que era melhor na primária.

 

E como não posso prometer evitar pensar neste assunto sem me lembrar da minha própria experiência só posso prometer que serei cuidadosa na escolha. Vou basear a escolha na análise minuciosa do currículo dos professores, claro. Mas não só. E é este "não só" que há-de fazer a diferença.



publicado por Lina às 06:10
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De Joana a 9 de Novembro de 2009 às 16:07
Também. Se a memória não me falha entrei em 92 e saí em 95.
Lembro-me de um ano em que até nasceu um cogumelo no tecto de um dos galinheiros tal era a humidade naquelas ´salas´.


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