A busca da escola certa - aquela que reúne boas condições de ensino, de incentivo ao desenvolvimento pessoal e que fica perto de casa (muito importante!) - está a transformar-se numa tarefa hercúlea.
Neste texto do blog Jugular, uma pessoa que não conheço dá-me razões para não inscrever a Mini em colégios da Opus Dei (algo que já tinha mais ou menos claro na minha cabeça). Ainda não encontrei uma razão para não inscrever a minha filha numa escola privada. Mas também já encontrei uma razão para não a deixar numa escola pública: J., uma rapariga que conheci e que é professora primária.
É amorosa como pessoa. Mas tem um grave defeito para o meu paladar: aquilo que eu chamo profissão, ela chama de hobby. Gostava de ser jornalista. Mas ainda não é aqui que sinto comichão. Eu adoro jogar PSP e há quem pague a hipoteca a fazê-los. O que me perturba são outras questõezinhas de nada:
1) Que desenvolva a sua actividade paralela no tempo que as aulas lhe deixam livres, isto é, quase todas as tardes, aquele período que alegadamente é dado aos profes para se prepararem, imagine-se, para as aulas;
2) que não sinta amor pelas crianças que ensina;
3) que discrimine positivamente os alunos que à partida já têm mais condições para obterem bons resultados. Os que têm pais ricos, ou muito qualificados, ou as duas coisas juntas. Aqueles que lhe dão menos trabalho. Literalmente. Já a ouvi dizer várias vezes que com esses é muito mais fácil.
Está bem, admito que o ponto 1 é mais inveja que outra coisa. Quem me dera trabalhar apenas seis horas por dia (e cumprir o horário). Também não sou totalmente ingénua e sei, sobre o ponto 2, que os professores têm direito a não gostarem do que fazem. E fico perturbada com o ponto 3. Apesar de ter passado 12 anos do percurso escolar achando que os "stores" não tinham preferências pelos alunos, também acabei por descobrir que eles gostam mais de uns que de outros e, irritantemente quando não se faz parte desse grupo, preferem os simpáticos e estudiosos, os mais cultos, os bonitinhos, os bem vestidos, os mais educados, os têm famílias "normais" e que têm pais "com interesses" e que os levam... "a fazer coisas". O que mesmo é a big picture, este "quadro clínico" aplicado à prática.
Não estou a falar dos casos extremos. Nem de meninos com tudo contra eles, cuja única salvação é terem um dom que os torne Cristianos Ronaldos de uma profissão qualquer. Nem daqueles que têm dinheiro, pais interessados e apostados em dar uma educação de excelência. Estou a falar do que eu acredito que é uma vasta maioria que reunem algumas condições para fazer um percurso razoável, mas não as suficientes para se poderem distinguir.
E distinguir-se, na minha cabeça, é a pessoa ter valores sólidos - liberdade, igualdade, fraternidade + os 10 mandamentos (umas regras bem decentes em qualquer parte do mundo) -, descobrir os seus talentos e conseguir aprofundá-los. Cito um padre director de um colégio do Porto entrevistado quando se conheceram os rankings: "A melhor escola é que faz pessoas felizes". Não é só ter notas altas ou fazer amigos. É ser capaz de enfrentar os desafios que nos aparecem com destreza. E, para isto, não tenho dúvidas, são precisos bons professores (e bons auxiliares, já agora)..
Professores cultos e tolerantes é tudo o que se quer. Um que não gosta do que faz nem está motivado simplesmente não pode ser bom professor. E isso é mais possível numa escola pública do que num colégio privado. Porque não há nenhuma forma de avaliar o desempenho dos professores. Não estou a falar da célebre "avaliação", que encerra o pior dos males da escola pública: a falta de proximidade. A avaliação diária das competências existe, mas não chega ao ministério. É a única razão por que maus professores continuam a dar aulas. Numa escola privada, são mais exigentes quando admitem os professores e o corpo docente é geralmente mais estável. Para alguns pais, isso pode não querer dizer nada. Para mim é importante.
Depois na escola pública parecem ter as prioridades erradas. Nas escolas básicas, quando os miúdos ainda precisam de tanta rotina, andam sempre a trocar os profes. Nas secundárias, quando toda a gente está disponível para a mudança, mantêm-se os mesmos durante décadas. Um defeito apesar de tudo mais tolerável.
Engraçado (ou não) é nada disto ser novo. Era assim quando entrei na primeira classe em 1982 e até a nova ministra da educação, Isabel Alçada já escreveu sobre isto dos professores sem talento, sem vocação e sem vontade. O livro chama-se Uma Aventura na Escola.
(Gostava de ter a opinião das professoras, por favor).
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