Se há coisa que o papá odeia é que transforme o blogue em muro das lamentações da vida de mãe, mas hoje abro aqui um parêntesis para dizer que às vezes é muito difícil aguentar este país. E isto, podendo não parecer, tem tudo a ver com a Madalena (na exacta medida em que quando os 700 mil funcionários públicos deste país espirram um milhão e meio de pessoas se constipam).
A minha percepção da realidade pode estar toldada pelo cansaço de onze horas de avião, mas é frustrante estar cheia de vontade de chegar a Portugal, a casa, ao quentinho das coisas conhecidas, abrir o computador para ver o que se passou na última semana e perceber - pelas notícias, pela blogosfera, pelos mails - que não se avançou um metro em relação à semana que passou. Anda tudo a queixar-se da vida, e da vidinha, no 'corte' e pouco mais. Pior, numa contínua atitude de 'dizer sem dizer'. É detestável.
Escrever isto é fazer o mesmo (e eu tenho muito carinho pelo meta discurso), mas não dá para evitar esta sensação de que afinal o terceiro mundo é aqui e ficar calada. No Brasil está tudo a acontecer, faz-se, acontece-se e 2016 é já ao virar da esquina. Aqui há muita mesquinhez, mas com essa pode-se bem. É fazer pisca e ultrapassar. O que é insuportável é a pequenez. São aquelas 100 graminhas de queijinho flamengo, lá está...
O tio da Mini diz que não percebe como é que uma pessoa que ganha 500 euros vota no PS ou no PSD. É uma questão de classe! E eu entendo o que ele diz. Por isso é que no dia 27 de Setembro , por uma questão de classe, vou votar no partido que ofereça condições às mulheres "normais" - dessas que cometem a loucura e o arrojo de terem os seus filhos e o 'gajo' e o trabalho e a casa e ainda a quererem fazer desporto e a divertirem-se (as levianas!) - de chegarem a presidentes do conselho de administração de uma empresa. Há algum assim?
Algum partido que me explique como é que chegámos a 2009 com tão poucas mulheres em cargos de chefia e, como se isso não fosse já suficientemente mau, não encontramos em Portugal uma mulher num cargo de chefia importante que não seja solteira ou lésbica ou sem gajo ou com muitos gajos, mas sem filhos.
Se houver um partido assim, por favor, deixem a sigla na caixa de comentários.
Tenho seguido com mais atenção do que o costume as propostas partidárias e estou em condições de afirmar que não ouvi nenhum político vir a terreiro expor uma ideia que permita às mulheres "normais" (essa vasta minoria que horroriza as elites temendo, quiçá, que se invadam as comissões executivas com cheiro a bolçado e/ou refogado) mandarem efectivamente. Podendo até dar-se esse extraordinário caso, nunca visto entre os machos-alfa deste país, de eu não querer promoções, mas aqui a minha vizinha do lado não prescindir delas. Logo que tenhamos opções...
Na escola da minha filha existem crianças giras, ao domingo de manhã quando vamos ao parque cruzamo-nos com duas gémeas louras lindas, saídas de um anúncio, a publicidade, claro, está cheio de putos charilas encantadores, e não tenho qualquer problema em reconhecer que existem miúdos giros no mundo. Mas nenhum, nenhum mesmo chega aos calcanhares da minha Madalena.
Nem mesmo quando ao fim do dia a vou buscar ao infantário e ela, cansada, toda despenteada, com os vestidinhos amarrotadas, a cheirar a criança, às vezes birrenta, corre para mim, meia trôpega. É que não há. Isto é um facto, uma verdade como um templo. E não há quem me convença do contrário.
Que isto são os meus olhos de mãe a ver, tenho a certeza. E que sei que todos pensamos o mesmo a respeito das nossas crias também tenho a certeza. Tal como estou certa de que isto é uma funcionalidade com que vimos equipados em série quando saímos da fábrica.
Amamentamos, ficamos com os braços mais fortes para dar o melhor colo, nunca mais dormimos uma noite de jeito porque estamos sempre alerta, seríamos capazes de carregar o mundo às costas se disso dependesse a sobrevivência das nossas crianças, e olhamos para elas como se fossem exemplares únicos (e os mais perfeitos) simplesmente porque entre as múltiplas incumbências de ser mãe/pai está essa de lhes ensinarmos o que é o amor próprio: vemo-los tão belos que eles acabam convencidos disso mesmo. E ainda bem. Como poderíamos crescer e aprender a tomar decisões sozinhos se não fosse a auto-estima?
Uma mãe oficialmente a entrar nos 33, com um namorada de 38 e uma bebé de 16 meses e 26 dias. Parece-me tão bem.
A pessoa ler um texto destes e concluir que tem umas saudades loucas de estar grávida e de ter um bebé ainda mais pequeno em casa.
Portanto, aqui a mamã foi desopilar para a loja da Sony. Primeiro motivo de embaraço: parece que afinal as Playstation 3 custam quase 400 euros. Estou desapontada. Já me via em campeonatos de Singstar e, afinal, parece que vou continuar a ser um talento escondido. O pior mesmo foi ter ficado a olhar para uma placa transparente de onde saía uma luz azul e ter perguntado, suficientemente alto para o empregado ouvir, "o que é isto?". Resposta: "É o expositor!". Nunca mais entro naquele estabelecimento.
Ser dondoca e não morrer a tentá-lo.
(é que é tão isto)
Por mais ridículo que isto possa parecer (e para muita gente é), uma das coisas mais acertadas que alguma vez ouvi foi na novela "Vale Tudo".
Para quem não se lembra - e a Mini não se vai lembrar de certeza - esta novela era protagonizada pela Regina Duarte, que fazia de Helena (trama de Manoel Carlos, of course), e a filha, uma alpinista social, era interpretada por Glória Pires.
A mãe vem para o grande cidade (Rio de Janeiro) atrás da filha e a certa altura precisa de trabalhar, mas não encontra em quê, passando os dias a deliciar as pessoas da pensão onde vive com os seus cozinhados. Até que uma das pessoas com quem mora lhe diz: "procura dentro de ti o que fazes melhor e depois dedica-te a isso". Ela vê a luz e começa a vender sanduíches na praia, depois aquilo vai crescendo e ela acaba cheia de dinheiro, ao contrário da filha. Ok, esta parte é mesmo de novela, mas a personagem tinha razão, não tinha?
Procurar dentro de cada um aquilo que o satisfaz e depois passar à acção.
Parece-me tão fácil e, no entanto, por que será que é tão difícil de pôr em prática?
A Rachida Dati, que era ministra da Justiça de França, demitiu-se.
Sim, esta foi a senhora que 5 dias depois de ter dado à luz foi trabalhar. Dez dias depois pediu para se afastar e li que vai concorrer a um cargo em Bruxelas.
Ah, e segundo este texto do Expresso, as verdadeiras razões de tão rápido regresso ao activo nada têm que ver com o amor ao trabalho. Mas, claro, isto também pode ter sido escrito por um homem.
Era uma vez uma carochinha que andava a passear e encontrou uma fada madrinha que lhe disse:
- Minha filha, tens aqui um saco cheio de brinquedos para dares aos animais bebés mais bonitos que encontrares.
A carochinha pegou na trouxa e fez-se ao caminho. Viu cachorrinhos de olhar meigo, gatinhos de pêlo fofinho, leõezinhos queridos e girafinhas simpáticas mas foi aos filhos - pretos, com antenas e ar viscoso - que entregou o saco de brinquedos.
Blogues que os pais visitam
Sítios para bebés... e não só