Para descrever o que aconteceu hoje de manhã quando me despedi do papá e da Manena à porta de casa, teria de ter
1) uma máquina fotógrafica que tivesse captado aquele segundo da nossa despedida
ou
2) um talento absolutamente extraordinário, ao nível de um Nobel, para escrever.
Tudo o que possa dizer fica aquém da realidade e do que senti.
Facto: O papá veio despedir-se de mim com um beijinho.
Facto: A Madalena, com o seu gorro enfiado cabeça abaixo, estava já ao lado do elevador.
Facto: Quando viu o beijinhos do pai voltou atrás.
Facto: Esticou o pescocinho, com aquele gorro tão querido na cabeça, e fechou a boca como quem vai dar um beijinho.
Eu vi amor naquele gesto e no olhar dela.
E o que adorava descrever é o que se sente naquele nanosegundo em que uma criança - a nossa - tem uma reacção tão adulta, que sintetiza tudo o que tem aprendido ao longo destes quase dois anos de vida: as palavras, os sentimentos, a representação. A sério, eu vi amor nos olhos dela.
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